Na sede do meu concelho, há um tipo do género “fura-vidas”.
Negociante de gado, agricultor de terra arrendada, e o que mais aparecer para ganhar o pão da família. é uma pessoa muito popular o Tonheca. Normalmente os rendeiros têm uma pequena parcela de terra para muito gado e compensam o facto, comprando pequenas pastagens de preferência o mais longe possível umas das outras. Assim enquanto fazem a tranzumância, os animais vão comendo por onde passam e vão enganando a fome nas alturas de aperto. São conhecidos como rebanhos de “mal andar”. Tinha ainda outra característica este rebanho. Por imperativos da sua actividade, comprava aqui para vender ali, e como era pouco exigente, só comprava refugos.
As ovelhas do Tonheca eram todas velhas. Umas com ronha, pedaços de lã a cair, outras cegas, outras com pieira mancavam para todos os lados, eram uma fonte de dichotes bem dispostos sempre que passavam pelas ruas da vila.
-Oh Tonheca, manda tratar as ovelhas, coitadas, têm mesmo ar de doentes.
-Assim é que eu gosto delas. Respondia brincalhão.
Com o tempo, sempre que aparecia alguém com algum achaque logo ouvia:
-Pareces uma ovelha do Tonheca.
Há também um Lar da 3ª idade, grande, com muitos quartos e sempre cheio. O Alentejo está de pousio, mas como velho não precisa ser semeado, aparece espontaneamente, há uma autêntica praga nesta terra.
Certo dia, as pessoas que têm por mister a nobre arte de cuidar dos nossos velhos, resolveram criar um rancho folclórico. Escolheram-se os trajes, as danças a apresentar e por fim o mais importante o nome.
Rancho Folclórico e Etnográfico do Lar da Santa Casa da Misericórdia. Ficou bonito e impressionante, depois de pintado em letras garrafais num grande pano branco.
Ensaiaram durante seis meses e no Dia do Município ia dar-se a estreia tão esperada.
Lá estava em peso, todo o concelho para aplaudir. O Presidente da Câmara e os Vereadores, o Sr. Padre com a «prima» e um rebanho de beatas, os ricaços e famílias sentados um pouco à parte, e bem ao fundo, um grupo que tudo comentava, desde a beleza das mulheres, até há envergadura «corneana» de alguns maridos. A consciência crítica da terra.
Começou a actuação, primeiro um pouco rígida, de ferrugem, era possível de quando em vez ouvir o ranger das articulações, mas ninguém se estatelou no chão até ao último passo de dança.
O grupo ficou num silêncio cortante até alguém se atrever a fazer o primeiro comentário…
-Nã gosto do nomi, é muita comprido. Tenho outro melhor.
-Atão diz lá porra…o qu’ é que tás esperando…
-Aí vai…Rancho das Ovelhas do Tonheca.
E o nome só por si já dizia tudo…E assim ficou para todo o sempre…
(Joaq.God)
quinta-feira, maio 26
A Importância do Nome
Posted by A.Mello-Alter at 5/26/2005 01:39:00 da tarde
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