quarta-feira, julho 27

MENSAGEM - Fernando Pessoa

O ENCOBERTO II

O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz –
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados as quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,
Europa – os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

2 comentários:

  1. Que belíssima escolha esta.
    Fernando Pessoa é grande.

    Pena a nossa grandeza (a do portuguesinho que somos nós) se virar apenas para o nosso fado.
    Sempre quietinhos, chorosos e lamentosos, mas tranquilamente inócuos, abúlicos, à espera do nosso D. Sebastião.

    O sebastianismo continua a marcar a nossa cultura e a nossa civilização. Pobres de nós, coitadinhos, que não temos sorte....

    //(~_~)\\ um beijo da Titas

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  2. como é que disseste, Titas?


    Coitado do Álvaro de Campos!
    Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!
    Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!
    Coitado dele, que com lágrimas (autênticas) nos olhos,
    Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,
    Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha pouco, àquele
    Pobre que não era pobre, que tinha olhos tristes por profissão.

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