Capítulo XXVII - Quem afinal morreu?
- Eu não matei papai!
Arlindo gritava com a convicção dos inocentes, mas a detective Vanessa estava impassível.
- Você vai explicar isso ao tribunal. Temos evidências mais do que suficientes para prendê-lo.
- Quais? Quais são as evidências? - perguntou, inconformado.- Seu pai amanheceu morto, e tudo indica que foi envenenado. Sua mãe percebeu logo no começo da manhã e nos chamou. Enquanto você dormia, procuramos pistas pela casa e encontramos no fundo de sua gaveta de cuecas o frasco de um veneno muito eficaz...
- Não pode ser! - interrompeu o encrencado Arlindo - Alguém colocou isso lá para me incriminar!Vanessa sorriu, com sua frieza habitual.
- Não adianta, Arlindo... É melhor confessar. Você não contava com isso, mas seu pai, prevendo o seu trágico destino, escreveu uma carta...
A moça fez um sinal com os dedos e um dos assistentes entregou-lhe o pedaço de papel. Vanessa prosseguiu.
- Estava no bolso do pijama de Ambrósio. Veja o que diz: "Se alguém encontrou esta carta, provavelmente já estarei morto. O facto é que recobrei minha memória. Arlindo, meu filho mais velho, foi o responsável pela primeira tentativa de assassinato. Ainda não sei o que farei, mas como ele pode tentar de novo, deixo registrada esta denúncia. Arlindo nunca me perdoou por uma grande surra que lhe dei em sua adolescência, e nunca me perdoou por gostar mais de Jeitosinha. Percebendo que eu finalmente começava a me lembrar de tudo, passou a me ameaçar. Tenho medo de procurar a Polícia. Aliás, como tornei-me um monstro, não faz tanta diferença estar vivo ou morto. Tudo o que desejo é que, caso dê cabo de minha vida, o cruel Arlindo seja punido"... Ambrósio assina a carta. É claro que ainda faremos um exame grafotécnico...
- Não pode ser! Este bilhete é forjado! Você verá! - disse o primogénito de Ambrósio e Marilena.
-Há ainda uma terceira pista. - completou Vanessa - Existe este copo, encontrado ao lado da cama do seu pai, com resíduos do mesmo veneno encontrado em seu quarto, dissolvido em suco de groselha. Nele, há digitais de duas pessoas diferentes.
"Sim!", pensou Arlindo. "Agora eu entendo! Foi Jeitosinha! Ela me serviu uísque, ontem, neste mesmo copo. Como ela usava luvas, só as marcas de meus dedos estão no vidro!".
Em pânico, e tremendo de ódio, Arlindo apontou para a irmã:
- Foi ela! Ela é uma farsa! Um travesti maníaco e assassino! A senhora ouviu, detective, o próprio papai dizendo isso!
- Seu pai estava muito abalado. Este tipo de confusão é comum... Mesmo sem querer, Jeitosinha era o pivô dos desentendimentos. Talvez por isso ele a tenha visto em seu delírio. Agora... Que história é essa de travesti?
Vanessa dirigiu a pergunta a Marilena.
- Arlindo está tentando confundi-la, detective. - A mãe não perdeu a chance de socorrer a filha naquele momento dramático.
- Quer comprovar? - Disse Jeitosinha, contando com a negativa de Vanessa.
- Não é preciso, querida. Sei bem como são os homens. Estão sempre tentandoencontrar algum defeito nas mulheres bonitas.
Vanessa dirigiu-se aos assistentes e ordenou:
- Levem-no. Vamos esperar o exame da letra no bilhete e das marcas no copo.Você vai aguardar na cadeia o resultado, Arlindo. E caso se comprovem asevidências, não sairá de lá tão cedo...
Debatendo-se e gritando, o cruel Arlindo foi empurrado para o carro prisão.Os policiais deixaram a casa, e Marilena finalmente demonstrou sua dor num choro convulsivo. Na verdade sentia-se aliviada pelo fim de Ambrósio, mas não se conformava com o facto de que um de seus filhos tivesse assassinado o homem.
- Jeitosinha... porque Arlindo tentou incriminá-la?- Você sabe que ele me odeia, mamãe.
Jeitosinha estava calma e segura. Beijou suavemente o rosto de Marilena e foi para o quarto, já pensando no próximo acto de seu circo de horrores.
domingo, julho 17
A VERDADEIRA IDENTIDADE DE JEITOSINHA (autor desc.)
Posted by A.Mello-Alter at 7/17/2005 01:23:00 da tarde
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