segunda-feira, agosto 29

O BARCO VAI DE SAÍDA…


Por motivos de “força maior”, vou ausentar-me durante uns dias…A saúde a isso obriga.
Espero estar de volta o mais tardar, no próximo sábado às minhas lides “bloguistas”.
Se, por acaso não voltar, façam o favor der ser felizes…

Os bons, vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m' espantar,
os maus, vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim,
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
anda o mundo concertado.

(Luís de Camões)

A BESTA QUE FALA

Era uma vez, no tempo em que os animais falavam

Após mais uma “Monumental Bebedeira”, o bastardo, para não dizer filho da puta, falou assim:

"Recuso-me a ser espanhol, tenho muita honra em ser português, e quero, daqui do Porto Santo, desta primeira terra das Descobertas, avisar Lisboa que se forem para alguma aventura ibérica, nós vamos seguir o nosso caminho, porque para isso já estamos preparados",

Muito vinho se consome naquela ilha.

domingo, agosto 28

O PEQUENO PRINCIPE (A. de Saint-Exupéry)

Capítulo IV
Eu aprendera, pois, uma segunda coisa, importantíssima: o seu planeta de origem era pouco maior que uma casa!Não era surpresa para mim. Sabia que além dos grandes planetas - Terra, Júpiter, Marte ou Vénus, aos quais se deram nome - há centenas e centenas de outros, por vezes tão pequenos que mal se vêem no telescópio. Quando o astrónomo descobre um deles, dá-lhe por nome um número. Chama-o, por exemplo: "asteróide 3251
Tenho sérias razões para supor que o planeta de onde vinha o príncipe era o asteróide B 612. Esse asteróide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrónomo turco
Ele fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim.
Felizmente para a reputação do asteróide B 612, um ditador turco obrigou o povo, sob pena de morte, a vestir-se à moda europeia. O astrónomo repetiu sua demonstração em 1920, numa elegante casaca. Então, dessa vez, todo o mundo se convenceu.
Se lhes dou esses detalhes sobre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número, é por causa das pessoas grandes. As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que colecciona borboletas?" Mas perguntam: "Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?" Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dizemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma ideia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de seiscentos contos". Então elas exclamam: "Que beleza!"
Assim, se a gente lhes disser: "A prova de que o principezinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que ele queria um carneiro. Quando alguém quer um carneiro, é porque existe" elas darão de ombros e nos chamarão de criança! Mas se dissermos: "O planeta de onde ele vinha é o asteróide B 612" ficarão inteiramente convencidas, e não amolarão com perguntas. Elas são assim mesmo. É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes.
Mas nós, nós que compreendemos a vida, nós não ligamos aos números! Gostaria de ter começado esta história à moda dos contos de fada. Teria gostado de dizer:
"Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que tinha necessidade de um amigo..." Para aqueles que compreendem a vida, isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro.
Porque eu não gosto que leiam meu livro levianamente. Dá-me tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não o quero esquecer. É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigo. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e alguns lápis também. É duro pôr-se a desenhar na minha idade, quando nunca se fez outra tentativa além das jibóias fechadas e abertas dos longínquos seis anos! Experimentarei, é claro, fazer os retratos mais parecidos que puder. Mas não tenho muita esperança de conseguir. Um desenho parece passável; outro, já é inteiramente diverso. Engano-me também no tamanho. Ora o principezinho está muito grande, ora pequeno demais. Hesito também quanto à cor do seu traje. Vou arriscando então, aqui e ali. Enganar-me-ei provavelmente em detalhes dos mais importantes. Mas é preciso desculpar. Meu amigo nunca dava explicações. Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci.

sábado, agosto 27

VOZES DE BURRO(A)…

Mary Michael reza junto à catedral de Lincoln para evitar a rodagem da película «O Código Da Vinci».
Durante 12 horas, de joelhos, a freira pediu a «intervenção divina», às portas da catedral de Lincoln, sudoeste de Inglaterra, para impedir a realização do referido filme que tem como actor Tom Hanks.
A intervenção divina não chegou, a avaliar pelo ritmo da rodagem.
A freira entende que o filme é uma blasfémia e uma ofensa a Deus.Como em Inglaterra ainda são as leis que determinam o que se pode ou não fazer, sendo Deus irrelevante, a freira resignou-se e desabafou:
«O que interessa é o que Deus pensa. No dia do juízo final, quando me encontrar frente a frente com o Todo Poderoso, poderei dizer-lhe que pelo menos tentei [impedir o filme].»

El Periódico, de 18 de Agosto.

quinta-feira, agosto 25

“MALUQUINHOS EM FÁTIMA”

O líder da Fraternidade Pio X, um movimento ultra-conservador fundada por monsenhor Lefebvre, acusou ontem o Santuário de Fátima de praticar "sacrilégios" e "idolatria", ao promover encontros inter-religiosos com movimentos que não professam a mesma fé católica.

O bispo Bernard Fellay lançou duras críticas ao Santuário de Fátima, acusando-o de promover "sacrilégios" ao permitir "cerimónias na capelinha" com hindus e crentes de religiões não católicas.

Nos dias de hoje, "a cólera de Deus dirige-se contra o que foi feito em Fátima nos últimos anos", desde que o Santuário começou a promover encontros ecuménicos, assistiu-se à "erradicação da mensagem de Fátima", seguindo uma "lógica e uma coerência iniciada pela nova teologia de depois do Concílio Vaticano II”.

Acusou ainda Bernard Fellay. "A mensagem de Fátima, que procura a reparação dos pecados, foi esquecida" e a "culpa destes desvios da fé é de uma nova doutrina" que "ignora Deus", colocando-O "tão alto que nos é inacessível".

Ao promover contactos com outras confissões religiosas, a Igreja actual comete "atentados contra a honra da Virgem Maria", seguindo ainda padrões de celebrações "demasiado adaptados às necessidades dos homens", disse o bispo.

Este movimento - cujo primeiro líder, Marcel Lefebvre, foi excomungado por João Paulo II - critica a Nova Missa, instituída pelo Concílio, e defende o regresso aos ritos em latim, como existia antes da década de 1960. Ao final da manhã, os quatro bispos do movimento consagraram a Rússia ao Sagrado Coração de Maria, seguindo um pedido da Irmã Lúcia e as indicações de Marcel Lefebvre.

Porque é que não internam esta gente?

quarta-feira, agosto 24

MENSAGEM - Fernando Pessoa

OS AVISOS I

O BANDARRA

Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como o Universo
E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,
Mas Deus sagrou com Seu sinal
Este, cujo coração foi
Não português mas Portugal.

terça-feira, agosto 23

PALAVRAS DOS OUTROS

CIRCO ROMANO EM COLÓNIA
Em Colónia, na Alemanha, anda à solta o pastor alemão que um bando de cardeais, com a cumplicidade do Espírito Santo e do Opus Dei, fez ditador vitalício da única teocracia europeia.Cobre-o, até aos tornozelos, um alvo vestido, de fino tecido e delicado corte, que realça os sapatinhos vermelhos do animador do circo que levou a Colónia centenas de milhares de jovens para promoção dos interesses da Cúria Romana.

Pende-lhe do pescoço a trela que termina em refulgente cruz, riquíssimo adorno do traje feminino.A brancura do vestido, a condizer com o cabelo, destoa do modelo que o exibe.
Para este espectáculo, que não é cultural nem recomendável, foi pedido um patrocínio à presidência da Comissão Europeia.
Não sei se o precedente fica aberto, para que bandas musicais, circos ambulantes e companhias de teatro venham a conseguir apoio.
Bento XVI não tem o arrojo de João Paulo II. Sente-se mal como charlatão de feira. Prefere organizar as pantominas no ar condicionado do Vaticano. Não verga a coluna para oscular o chão, uma espécie de felação de quem julga que Deus está em toda a parte e a Terra é a braguilha da humanidade.
Cumpre os rituais do múnus com a alegria do boi que caminha para o açougue, qual Cristo da mitologia católica a caminho do gólgota.
O barulho encomendado aos jovens há-de azucrinar-lhe os ouvidos, as lambidelas da mão hão-de causar-lhe nojo, as missas que repete há mais de meio século cansam-no e mantém aquele impenetrável rosto enquanto distribui água benta, benzeduras e hóstias consagradas, ad majorem Dei gloriem.
Vai ser uma semana infernal para o vigário de Cristo, um odioso trabalho de campo para um homem de gabinete, repetir até à náusea gestos, palavras, esgares, até ao desfazer da feira, enquanto a boa imprensa entoa hossanas ao impostor que se diz agente do divino.

Carlos Esperança,

(Na cidade de Colónia esgotaram-se os stoks de preservativos)

segunda-feira, agosto 22

A INDUSTRIA DO FOGO

A evidência salta aos olhos: o país está a arder porque alguém quer que ele arda. Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda. Há uma verdadeira indústria dos incêndios em Portugal. Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada.

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo.
A maioria dos incendiários, seriam pessoas mentalmente diminuídas.

Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:

Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?

Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?

Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?

Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?

Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?

domingo, agosto 21

O PEQUENO PRINCIPE (A. de Saint-Exupéry)

Capítulo 03
Levei muito tempo para compreender de onde viera. O principezinho, que me fazia milhares de perguntas, não parecia sequer escutar as minhas. Palavras pronunciadas ao acaso é que foram, pouco a pouco, revelando tudo. Assim, quando viu pela primeira vez meu avião (não vou desenhá-lo aqui, é muito complicado para mim), perguntou-me bruscamente:
- Que coisa é aquela?
- Não é uma coisa. Aquilo voa. É um avião. O meu avião.
Eu estava orgulhoso de lhe comunicar que eu voava. Então ele exclamou:
- Como? Tu caíste do céu?
- Sim, disse eu modestamente.
- Ah! como é engraçado...
E o principezinho deu uma bela risada, que me irritou profundamente. Gosto que levem a sério as minhas desgraças. Em seguida acrescentou:
- Então, tu também vens do céu! De que planeta és tu?
Vislumbrei um clarão no mistério da sua presença, e interroguei bruscamente:
- Tu vens então de outro planeta?
Mas ele não me respondeu. Balançava lentamente a cabeça considerando o avião:
-É verdade que, nisto aí, não podes ter vindo de longe...
Mergulhou então num pensamento que durou muito tempo. Depois, tirando do bolso o meu carneiro, ficou contemplando o seu tesouro.
Poderão imaginar que eu ficara intrigado com aquela semi confidência sobre "os outros planetas". Esforcei-me, então, por saber mais um pouco.
- De onde vens, meu bem? Onde é tua casa? Para onde queres levar meu carneiro?
Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois:
- O bom é que a caixa que me deste poderá, de noite, servir de casa.
- Sem dúvida. E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma estaca.
A proposta pareceu chocá-lo:
- Amarrar? Que idéia esquisita!
- Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
E meu amigo deu uma nova risada:
- Mas onde queres que ele vá?
- Não sei... Por aí... Andando sempre para frente.
Então o principezinho observou, muito sério:
- Não faz mal, é tão pequeno onde moro!
E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda:
- Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe...

E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda:
- Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe...

sábado, agosto 20

VITÓRIA DO BENFICA

Comunicado de Miguel (na íntegra)
“Eu, Luís Miguel Brito Garcia Monteiro, entendi promover esta conferência de Imprensa, não para falar do meu futuro, porque sobre ele haverá muitas oportunidades para o fazer, mas para informar que chegou ao fim, por mútuo acordo o diferendo que me opunha ao Benfica.
A todos os Benfiquistas, as minhas desculpas públicas por esta situação.
Fui um atleta que sempre honrou e dignificou a camisola do Clube, que ajudei a ganhar o título de Campeão Nacional e ao qual devo grande parte do meu sucesso.
Espero que a incomparável massa associativa do Benfica me perdoe por um comportamento menos avisado.
A todos os colegas, dirigentes, treinadores e funcionários, o meu muito obrigado.
Reconheço que a estratégia por mim defendida e pelos meus representantes não foi a mais adequada e provavelmente menos ética, revelando-se, com pena minha, totalmente inadequada.
Reconheço ainda, que algumas pessoas, que julguei meus amigos, ou que julgava serem especialistas, se quiseram aproveitar de mim, na pura perspectiva de fazer fortuna à minha custa.
Reitero que estou arrependido pelo facto de ter envolvido o Benfica e os seus adeptos numa discussão pública, aproveitada de forma injusta, mas nunca foi esse o meu desejo, aproveitando para agradecer a todos, em especial ao senhor Luís Filipe Vieira, Presidente do Conselho de Administração, pelo apoio e pela contribuição para a resolução deste processo.
Não quero acabar esta declaração, sem referir que o meu futuro acabou por ser definido exclusivamente pelo Benfica, agradecendo ao Valência a confiança depositada na minha pessoa.
Finalmente, agradeço ao Sindicato dos Jogadores pela disponibilidade e confiança na resolução consensual do conflito e quero esclarecer que esta declaração é feita sem qualquer coacção ou constrangimento e destina-se exclusivamente a repor a verdade dos factos.
A todos, em particular aos benfiquistas o meu muito obrigado.”
------//------
À saída da conferência de imprensa disse que foi coagido a fazer este comunicado. Mas o que ficou provado, é que toda a razão estava do lado do Benfica.
Essas, “
algumas pessoas que se quiseram aproveitar de mim, na pura perspectiva de fazer fortuna à minha custa” são os chulos do futebol. Esse causídico do “Conselho Canino”, tem um “ódio doentio” pelo Benfica.
São estes “filhos da puta” que vivem à custa dos jogadores, que muitas vezes lhes arruínam as carreiras.

quinta-feira, agosto 18

NOVA CRUZADA

Benoît XVI invite à ne pas retirer les crucifix des lieux publics.
Le pape Benoît XVI a invité à rendre Dieu visible et à ne pas retirer les crucifix des lieux publics, le 15 août 2005, revenant ainsi sur une polémique apparue deux ans plus tôt en Italie. (...)

O Papa Bento XVI, retoma uma polémica de 2003 em que um juiz mandou retirar um crucifixo de uma escola pública em nome da “Laicidade de Estado”.

Para o ex-Santo Inquisidor, o crucifixo deve estar presente em todos os locais públicos e privados, nos caminhos e praças, como testemunho da presença divina.

O artigo só é omisso quanto à intenção de plantar crucifixos em países doutras religiões. O Papa quer a cruz em todos os lugares em vez dos símbolos do Estado democrático.

Este papa é obsoleto, mas muito perigoso. Os Livres-Pensadores têm de barrar-lhe o caminho, para não corrermos o risco de voltar a assistir ao Atear da Fogueiras.

quarta-feira, agosto 17

POBRE IRAQUE

Desde o já distante dia da Invasão, que Jorge Bush não pára de matar no Iraque.
Esta manhã, mais 47 mortos e 80 feridos.

MENSAGEM - Fernando Pessoa

O ENCOBERTO V

Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.

Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.

Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
NA Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

terça-feira, agosto 16

MEMÓRIA

16/08/04 - Do Arquivo Nacional da Torre do Tombo
SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou; sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487 e guardar no Real Arquivo da Torre do Tombo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".

DIA A DIA

(este poste devia ter sido editado ontem)
HISTÓRIA DE 15 DE AGOSTO

1543 - Em Paris, é fundada a ordem dos Jesuítas por Inácio de Loiola, com o objectivo de proteger o catolicismo contra a Reforma e de realizar trabalho missionário.
1947 - É proclamada a independência da Índia.
1948 - É proclamada a república da Coreia do Sul.
1965 - Tumultos raciais em Los Angeles causam 28 mortos e 676 feridos.
1969 - Início do Festival de Woodstock, nos EUA, que durante três dias teve a participação de quarenta grupos musicais, reunindo 400 000 pessoas.
1995 - Em São Tomé e Príncipe, golpe de estado efectuado por oficiais subalternos.
1995 - Inauguração das emissões da RTPi e da RDPi para a Guiné-Bissau.

HOJE NASCEU

1195 - Fernando de Bulhões, futuro Santo António de Lisboa.
1769 - Napoleão Bonaparte, imperador francês.
1771 - Walter Scott, escritor escocês.
1785 - Thomas De Quincey, escritor inglês.
1866 - Margarida Adelina Abranches, actriz portuguesa.
1875 - Samuel Coleridge Taylor, compositor inglês.
1886 - António Silva, actor português.
1888 - T. E. Lawrence, militar e escritor inglês.
1892 - Louis Victor de Broglie, físico francês.
1938 - Fiama Hasse Pais Brandão, escritora portuguesa.

HOJE MORREU

1057 - Macbeth, rei da Escócia.
1907 - Joseph Joachim, violinista e compositor húngaro.
1909 - Euclides da Cunha, escritor brasileiro.
1935 - Paul Signac, pintor francês.
1967 - René Magritte, pintor belga.
1995 - António Vilar, actor português

domingo, agosto 14

O PEQUENO PRINCIPE (A. de Saint-Exupéry)

Capítulo 02
Vivi portanto só, sem amigos com quem pudesse realmente conversar, até o dia, cerca de seis anos atrás, em que tive uma pane no deserto do Saara. Alguma coisa se quebrara no motor. E como não tinha comigo mecânico ou passageiro, preparei-me para empreender sozinho o difícil conserto. Era, para mim, questão de vida ou de morte. Só dava para oito dias a água que eu tinha.
Na primeira noite adormeci pois sobre a areia, a milhas e milhas de qualquer terra habitada. Estava mais isolado que o náufrago numa tábua, perdido no meio do mar. Imaginem então a minha surpresa, quando, ao despertar do dia, uma vozinha estranha me acordou. Dizia:
- Por favor... desenha-me um carneiro!
- Hem!
- Desenha-me um carneiro...Pus-me de pé, como atingido por um raio. Esfreguei os olhos. Olhei bem. E vi um pedacinho de gente inteiramente extraordinário, que me considerava com gravidade. Eis o melhor retrato que, mais tarde, consegui fazer dele
Meu desenho é, seguramente, muito menos sedutor que o modelo. Não tenho culpa. Fora desencorajado, aos seis anos, da minha carreira de pintor, e só aprendera a desenhar jibóias abertas e fechadas.
Olhava pois essa aparição com olhos redondos de espanto. Não esqueçam que eu me achava a mil milhas de qualquer terra habitada. Ora, o meu homenzinho não me parecia nem perdido, nem morto de fadiga, nem morto de fome, de sede ou de medo. Não tinha absolutamente a aparência de uma criança perdida no deserto, a mil milhas da região habitada. Quando pude enfim articular palavra, perguntei-lhe:
- Mas ... que fazes aqui?
E ele repetiu-me então, brandamente, como uma coisa muito séria:
- Por favor... desenha-me um carneiro ...
Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer. Por mais absurdo que aquilo me parecesse a mil milhas de todos os lugares habitados e em perigo de morte, tirei do bolso uma folha de papel e uma caneta. Mas lembrei-me, então, que eu havia estudado de preferência geografia, história, cálculo e gramática, e disse ao garoto (com um pouco de mau humor) que eu não sabia desenhar. Respondeu-me:
- Não tem importância. Desenha-me um carneiro.
Como jamais houvesse desenhado um carneiro, refiz para ele um dos dois únicos desenhos que sabia. O da jibóia fechada. E fiquei estupefato de ouvir o garoto replicar:
- Não! Não! Eu não quero um elefante numa jibóia. A jibóia é perigosa e o elefante toma muito espaço. Tudo é pequeno onde eu moro. Preciso é dum carneiro. Desenha-me um carneiro.
Então eu desenhei.
Olhou atentamente, e disse:
- Não! Esse já está muito doente. Desenha outro.
Desenhei de novo
Meu amigo sorriu com indulgência:
- Bem vês que isto não é um carneiro. É um bode... Olha os chifres...
Fiz mais uma vez o desenho.
Mas ele foi recusado como os precedentes:
- Este aí é muito velho. Quero um carneiro que viva muito.
Então, perdendo a paciência, como tinha pressa de desmontar o motor, rabisquei o desenho ao lado.
E arrisquei:
- Esta é a caixa. O carneiro está dentro.
Mas fiquei surpreso de ver iluminar-se a face do meu pequeno juiz:
- Era assim mesmo que eu queria! Será preciso muito capim para esse carneiro?
- Por quê?
- Porque é muito pequeno onde eu moro...
- Qualquer coisa chega. Eu te dei um carneirinho de nada
Inclinou a cabeça sobre o desenho:
- Não é tão pequeno assim... Olha! Adormeceu...
E foi desse modo que eu travei conhecimento, um dia, com o pequeno príncipe.

sábado, agosto 13

ESPERAR PARA VER

Uma resposta a um procedimento legal do novo guardião da pureza da fé, William Levada está a chocar os devotos católicos americanos.
Em 1994 Stephanie Collopy, que teve uma relação com o então seminarista hoje padre Arturo Uribe, interpôs um processo contra a Igreja para que esta pagasse uma pensão de alimentos para o fruto dessa relação.
A arquidiocese contrapôs como razão para não ter de o fazer, que Stephanie praticou «relações sexuais desprotegidas - quando (ela) deveria saber que tal poderia resultar em gravidez».
Ou seja, a «culpa» da gravidez foi de Stephanie, que deveria ter usado um qualquer método anti contraceptivo, incluindo o tão famigerado preservativo, na sua relação com o futuro padre.

Na altura a história e resposta não fez grande alaridio. Mas agora, Stephanie voltou à barra do tribunal pretendendo apoio financeiro para o seu filho, que sofre de problemas crónicos de saúde.
As reacções de choque por parte dos devotos católicos americanos não se fizeram esperar.

Não apenas porque, na boa tradição católica, toda a culpa da gravidez foi assacada a Stephanie, (a Eva que tentou o pobre seminarista). Mas especialmente porque a argumentação da arquidiocese vai contra tudo o que é debitado pela santa Igreja de Roma, que condena vigorosamente o uso de contraceptivos.

É de facto chocante que uma Igreja que organiza queimas massivas de preservativos em países africanos massacrados pelo flagelo da SIDA. Que nem sequer sanciona o uso de preservativos no caso de um casal em que um dos membros está infectado pelo HIV. Tenha tentado escapar ao legítimo pagamento de uma pensão de alimentos a uma criança gerada por um dos seus membros com o pretexto de que a mãe deveria ter recorrido a um qualquer método para prevenir a gravidez.

Bem prega Frei Tomás…

quinta-feira, agosto 11

EXORCISMO POLÍTICO?

O cardeal venezuelano, Rosalio Castiio Lara, receita um bom exorcismo para resolver todos os problemas nacionais e acabar com a maldade do presidente Hugo Chávez a quem atribui poderes diabólicos.

Um exorcismo feito com a experiência da Santa Madre Igreja, católica, apostólica, romana e com o ódio que o cardeal nutre pelo presidente Chávez, podia expulsar o Maligno, que possui o presidente, e convertê-lo num anjo?
O Santo Cardeal incita a população à assuada, ao pronunciamento, ao motim, à insurreição e ao pontapé no cu, por serem métodos mais limpos e baratos do que o golpe de Estado.

Numa zona do mundo, a América Latina, onde a Igreja Católica sempre andou de braço-dado com ditadores da pior espécie, é estranha esta posição contra um presidente democraticamente eleito, e que ainda há pouco tempo, aceitou sujeitar-se a um Referendo que o Confirmou por Larga Maioria.

quarta-feira, agosto 10

MENSAGEM - Fernando Pessoa

O ENCOBERTO IV

AS ILHAS AFORTUNADAS

Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.

terça-feira, agosto 9

VENDE-SE

Terreno com 89 mil quilómetros quadrados, encostado à Espanha, com 3 frentes e com as seguintes características:

1) Bons acessos
2) Viabilidade de construção em cima do mar (já não há mais onde construir)
3) Alto défice
4) Corrupção total
5) Povo com memória curta e que perdoa tudo
6) Empresários formados em fuga ao fisco
7) Jornalistas comprados
8) Funcionários "supostamente" malandros

Na compra deste pedaço de terra, ainda oferecemos:
a) Package de políticos incompetentes;
b) Conjunto de organismos públicos super lotados e com reforma garantida para os seus funcionários;
c) Viagens “à lá gardére” para os deputados;
d) Reformas chorudas por apenas dois mandatos de deputado;
e) Em caso de aperto pode fugir para o estrangeiro e obter altos cargos.

Urgência na venda devido a risco de colapso do edifício.
Necessita de limpeza URGENTE da CORRUPÇÃO e FUGA AO FISCO

segunda-feira, agosto 8

POESIA POPULAR

Conta as aventuras de dois Espantalhos, “O Do Bordão” e “O Filho do Falido”, que guardam as hortas dos dois “pais”, e que quando se apanham sozinhos, desatam a fazer partidas. Entre os dois, continuam a ter a amigável rivalidade dos “pais”.

MOTE

O Falido fez um boneco,
Que não faça outro, outra vez,
É um vaidoso, um tareco,
Tem as ventas de quem o fez.

I
É nas terras do Carolino,
Que mora aquele terrorista,
Tem tanta força na vista,
Que até espant’os passarinhos.
Já lá não fazem ninho,
Nem moram ali tão perto,
E pelo seu medonho aspecto,
Não há ninguém que o grame,
Enfiado num arame,
O Falido fez um boneco.

II
É tão esquisito, é tão estranho,
Berra, zurra, grita e relincha.
Correu atrás do “Caguincha”,
E maltratou o João Castanho.
Diz que pegou num “tanganho”,
Fez fugir mais dois ou três.
Foi ter a “Pedro Tourês”
Não há ninguém que o segure,
Digam a pai que o ature,
E não faça outro outra vez.

III
Quando o pai parte pr’a vila,
Pensa logo em artes manhosas,
Vai assustar o “Santoza”,
E meter medo ao João Mochila.
O Jaime não se admira,
Das manhas do badameco,
E como vive ali tão perto,
Chama-lhe parvo e tolo,
Diz que o quer correr ao”bolo”,
Por ser vaidoso e tareco.

IV
-Eu no mundo sou campeão,
Já desde a era de Cristo,
Agora vou ao S.Francico,
Fazer guerra ao do “bordão”!!
-Anda cá Napoleão!,
Pagas tudo duma vez.
Falas na língua de francês,
Assim arrogante e atrevido,
Se és o filho do Falido,
Tens as ventas de quem te fez.

Alexandre Malheiro
-poeta popular-

domingo, agosto 7

"FRETE" A UM AMIGO

Já passei pelo Crónica do Planalto e não vi referência a esta efeméride, o que bastante me surpreendeu, atendendo ao espiíito de "livre pensador " do seu editor. :-) Orlando.
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Uma desilusão brasileira

Capaz de governar São Paulo, cidade com 1500 km2 e dez milhões de habitantes (quase o dobro se falarmos da Grande São Paulo), o PT afirmava-se também capaz de governar o Brasil, quinto maior país do mundo. Graças a uma moderação do discurso (e há quem sugira também que devido à melhor escolha das gravatas), Lula assumiu finalmente a Presidência em 2002, numa vitória que sucedeu a três tentativas frustradas de conquistar o Palácio do Planalto. Votaram nele 61 porcento dos brasileiros - muita gente das camadas pobres, mas também parte da classe média, desejosa de ver no Poder alguém que se empenhasse em retirar ao Brasil o inglório título de campeão das desigualdades sociais.
Os dois mandatos do presidente Fernando Henrique Cardoso, um social-democrata, deixaram a economia brasileira no bom caminho e Lula teve o mérito de entregar a pasta das Finanças a António Palocci, que travou os ímpetos da ala mais socializante do PT. Mesmo assim, fiel ao seu ideário, Lula lançou iniciativas como o Programa "Fome Zero" que ajudaram a manter a sua áurea de homem providencial e uma popularidadeque teima em resistir ao "mensalão", um escândalo de envolvimento de empresas estatais no financiamento de um saco azul destinado a garantir apoio parlamentar às iniciativas do Governo do PT.
O "mensalão" atingiu uma dimensão inédita em termos de escândalo, com o PT a ir mais longe do que a classe política tradicional que tanto criticava. Hoje está ameaçado de cisões, como a do PT Livre formado por 21 parlamentares. É certo que procura recuperar credibilidade colocando à sua frente Genro, o prestigiado ex-autarca de PortoAlegre. Mas perderá muitos votos, parte provavelmente para o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, figura que continua a gozar de grande prestígio e de fama de incorruptível.
Lula, por seu lado, talvez possa até ser reeleito (as presidenciais coincidem com as legislativas). Já se percebeu que a sua popularidade é capaz de resistir a tudo, até ao "mensalão". Mas o melhor que Lula pode alegar neste caso é que desconhecia tudo. Muito pouco para um homem que construiu a pulso o PT. E se aquilo que distingue a esquerda da direita é sobretudo o sonho, a capacidade de sonhar, de acreditar em ilusões, este PT já não ilude. Desilude. Tal como Lula.
Leonídio Paulo Ferreira
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Mas embora eu não seja petista, votei no presidente Lula, porque acreditei na competência dele, e o trabalho que tem feito até agora está muito bom, não fossem os ministros dele.
Dá p’ra sentir bem a melhora que houve no país durante o seu governo.

Aqui no Brasil estão acontecendo algumas coisas que me preocupam, especialmente no Rio de Janeiro. Além destas denúncias de corrupção, vai haver um referendo (é isso mesmo?) sobre o desarmamento da população. Parece que querem tornar ilegal o comércio de armas de fogo. Além disso, estão proibindo que os cidadãos tenham cães de raças consideradas ferozes, como Pitbulls e Rotweilers sem que sejam castrados.

Além disso, é sabido que a instituição Polícia Militar é um antro de corrupção e está ligada a traficantes. E a população está cada vez mais alienada pela TV e pelos meios de comunicação de massa. As novelas fazem cada vez mais sucesso e tudo mais.

Uma situação muito complicada esta. Que muito me entristeceu e me preocupa, pois, apoiante a 100% do Lula, receio pela sua imagem. Como nós dizemos aqui, ainda a procissão vai no adro (acabada de sair da Igreja).
O Lula tem saído até hoje imune, pois a oposição sabe que uma queda do Governo agora daria, em novas eleições, uma enorme vitória ao Lula. Que sairia reforçado de toda esta trama. Há pois que ir desgastando a sua imagem e virando o povo contra ele; instalando a dúvida. E será difícil provar que uma coisa com as dimensões do mensalão era de todo desconhecida para o Presidente.
Outra opinião
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Espero que tenhas ficado satisfeito.
Esta casa está sempre aberta á livre opinião.
Espero que para a próxima, colabores com palavras tuas, de preferência.

O PEQUENO PRINCIPE (A. de Saint-Exupéry)

Capítulo 01
Certa vez, quando tinha seis anos, vi num livro sobre a Floresta Virgem, "Histórias Vividas", uma imponente gravura. Representava ela uma jibóia que engolia uma fera.
Eis a cópia do desenho.
Dizia o livro: "As jibóias engolem, sem mastigar, a presa inteira. Em seguida, não podem mover-se e dormem os seis meses da digestão."
Reflecti muito então sobre as aventuras da selva, e fiz, com lápis de cor, o meu primeiro desenho.
Meu desenho número 1 era assim:
Mostrei minha obra prima às pessoas grandes e perguntei se o meu desenho lhes fazia medo.
Respondera-me: "Por que é que um chapéu faria medo?"
Meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jibóia digerindo um elefante. Desenhei então o interior da jibóia, a fim de que as pessoas grandes pudessem compreender. Elas têm sempre necessidade de explicações.
Meu desenho número 2 era assim:

As pessoas grandes aconselharam-me a deixar de lado os desenhos de jibóias abertas ou fechadas, e dedicar-me de preferência à geografia, à história, ao cálculo, à gramática. Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma esplêndida carreira de pintor. Eu fora desencorajado pelo insucesso do meu desenho número 1 e do meu desenho número 2. As pessoas grandes não compreendem nada sozinhas, e é cansativo, para as crianças, estar toda hora explicando.
Tive pois de escolher uma outra profissão e aprendi a pilotar aviões. Voei, por assim dizer, por todo o mundo. E a geografia, é claro, me serviu muito. Sabia distinguir, num relance, a China e o Arizona. É muito útil, quando se está perdido na noite.
Tive assim, no decorrer da vida, muitos contatos com muita gente séria. Vivi muito no meio das pessoas grandes. Vi-as muito de perto. Isso não melhorou, de modo algum, a minha antiga opinião.
Quando encontrava uma que me parecia um pouco lúcida, fazia com ela a experiência do meu desenho número 1, que sempre conservei comigo. Eu queria saber se ela era verdadeiramente compreensiva. Mas respondia sempre: "É um chapéu". Então eu não lhe falava nem de jibóias, nem de florestas virgens, nem de estrelas. Punha-me ao seu alcance. Falava-lhe de bridge, de golfe, de política, de gravatas. E a pessoa grande ficava encantada de conhecer um homem tão razoável.

sábado, agosto 6

06 DE AGOSTO DE 1945

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas.

Pensem nas meninas
Mudas inexactas.

Pensem nas mulheres
Rotas alteradas.

Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.

Mas oh! Não se esqueçam
Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária.

A rosa radioactiva
Estúpida e inválida.

A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica.

Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

quinta-feira, agosto 4

VIGARICES LEGAIS

Assembleia da República
56 ex-parlamentares já recebem subsídio de reintegração.

A Assembleia da República vai gastar mais de um milhão de euros em subsídios de reintegração profissional para 56 ex-deputados, que, ao cessarem funções este ano, solicitaram este regime especial.

Como o orçamento do Parlamento para o subsídio de reintegração de deputados ascende a 1,350 milhões de euros em 2005, esta verba será praticamente esgotada só com estes 56 parlamentares beneficiados.

Neste momento, encontram-se ainda a aguardar uma decisão 19 ex-parlamentares.

É certo que muita desta “cáfila”, não tem capacidade para mais nada, a não ser fazer política.
Mas então, inscrevam-se num Centro de Emprego como toda a gente, ou vão trabalhar para as obras. Acabem com os Regimes Especiais, criados por eles e para eles.
Deixem de “chular” o Estado
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DIA A DIA

1578 Batalha de Alcácer-Quibir, na qual desaparece o rei português D. Sebastião.

1914 A Inglaterra declara guerra à Alemanha, após os alemães terem violado o tratado de Londres, iniciando-se assim a I Guerra Mundial.

1935 Em Portugal, inauguração oficial da Emissora Nacional de Radiodifusão.

1940 A Itália invade o Quénia, o Sudão e a Somália.

1964 Iniciaram-se os bombardeamentos americanos no Vietname do Norte.

1966 Durante uma entrevista de rádio, John Lennon afirma que os Beatles são provavelmente mais conhecidos do que Jesus Cristo; os discos do grupo são consequentemente excluídos em muitos estados norte-americanos e na África do Sul.

1981 O maestro português Álvaro Cassuto é nomeado director artístico do Teatro Nacional de São Carlos.

1995 No Porto, manifestação contra a compra do Coliseu pela Igreja Universal do Reino de Deus.

quarta-feira, agosto 3

MENSAGEM - Fernando Pessoa


O ENCOBERTO III

O DESEJADO

Onde quer que, entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto, sente-se sonhado,
E ergue-te do fundo de não-seres
Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge da suprema prova,
A alma penitente do teu povo
À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao mundo dividido
Revele o Santo Gral!

POBRE BRUTO

Adjunto de Pedro Santana Lopes em São Bento, o social-democrata Ricardo Alves Gomes decidiu avançar com a desfiliação do PSD, por considerar que o partido está, actualmente, «demasiado próximo da esquerda».

Esta “aventesma”, vai passar a frequentar sessões espíritas, para tentar contactar os seus ídolos inspiradores; Mussolini, Salazar e Franco.

terça-feira, agosto 2

MEMÓRIA


HOMENAGEM À UTOPIA
1929 - 1987
"Parto da música para o texto. (...) Semeio palavras na música. Não tenho pretensões de dar a estas minhas deambulações pela música qualquer outro rótulo. Faço apenas canções." "Eu sempre disse que a música é comprometida quando o músico, como cidadão, é um homem comprometido. Não "é o produto saído desse cantor que define o compromisso mas o conjunto de circunstâncias que o envolve com o momento histórico e político que se vive e as pessoas com quem ele canta". Zeca Afonso

Em terras, em todas as fronteiras, seja bem-vindo quem vier por bem…”
Deixaste-nos na madrugada da minha vida, sem me dares tempo de te dizer, da importância que tiveste na minha formação como pessoa. Ficou a tua Obra, que podemos ouvir sempre, tão actual, como se tivesse sido escrita amanhã.

Lá onde estás, na memória dos que te amam, continuarás a ser o comandante desarmado da nossa Sierra Maestra.

Para os “Índios da Meia - Praia”, os mais simples de nós, és também uma espécie de Almirante da nossa Utopia Naufragada.

Vamos continuar a ouvir a tua música, e a acreditar que o futuro é possível.

COLABORAÇÕES

Um grupo de treze economistas descobriu hoje o que já deveria ter descoberto há muito tempo (nomeadamente no tempo de Cavaco e Ferreira do Amaral): que os investimentos no betão são inúteis e que Durão Barroso apenas quis dar espectáculo gratuito na cimeira da Figueira da Foz , quando acordou o TGV com os espanhóis!Eu até talvez concorde com os treze economistas - já concordava no tempo da betoneira do Amaral e, pelos vistos, a situação do País provou que eu tinha razão! -, mas com o que não concordo é com a sua cínica forma de intervir, pressionando e condicionando a ignorante opinião pública portuguesa (vejam só o destaque que lhes foi dado, como se dissessem alguma coisa de novo...), que tem uma memória curta (amanhã os mesmos economistas poderão sempre vir dizer o oposto, se isso for da sua conveniência, claro...).

(A. Castanho)

segunda-feira, agosto 1

DIA A DIA

No dia 1 de Agosto de 1977, morreuo o Cardeal Cerejeira.

Tenhamos pena; porque certamente a sua Alma desceu às profundezas do Inferno.

A FRASE DO MÊS

"A presidência de Durão Barroso na Comissão Europeia é um verdadeiro show político de horrores." Financial Times

Sempre tive a certeza que o desempenho deste “alpinista vira-casacas”, só poderia cobrir Portugal de vergonha.

COLABORAÇÕES


ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
Candidaturas independentes ou um desafio ao regime democrático?
Estão previstas para o dia 9 de Outubro p.f. , eleições para as autarquias locais. A eleição por sufrágio directo dos representantes das comunidades locais nos respectivos órgãos de poder ao nível das freguesias e concelhos, interrompida durante a ditadura, é apontada como uma das conquistas da Revolução de Abril.

É inegável a vantagem, do ponto de vista democrático, da possibilidade de escolha entre as várias candidaturas apresentadas pelos Partidos Políticos, enquanto expressão da vontade popular, e a nomeação directa de apaniguados de um regime de partido único.
No entanto o aprofundamento da democracia não poderia excluir da participação na administração local os cidadãos não representados nos partidos políticos existentes.

Os sucessivos aperfeiçoamentos da legislação sobre autarquias locais na sequência das revisões da Constituição, no âmbito da duração de mandatos, atribuições e competências dos órgãos deliberativos e legislativos e recentemente sobre a limitação de mandatos, incluiu também a possibilidade de apresentação de candidaturas às Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia por grupos de cidadãos independentes.

A formulação deste tipo de candidaturas, cuja apresentação é desejável, só é justificada, quando os partidos políticos, espinha dorsal da democracia representativa, não representarem por qualquer motivo, um conjunto significativo de cidadãos, que, entre si, geraram uma dinâmica capaz não só de se apresentarem a eleições como contribuir para uma escolha verdadeiramente democrática por parte do eleitorado.

O que se afigura condenável é o aproveitamento que se está a fazer, actualmente, desta possibilidade legal. Refiro-me concretamente a candidaturas independentes a Câmaras Municipais anunciadas por políticos que entraram em rota de colisão com os partidos a que pertencem ou pertenciam por motivos que ultrapassam a normal relação política e se situam no âmbito judicial. Estas candidaturas representam, a meu ver, uma afronta aos partidos políticos e um desafio ao regime democrático.

A corrida, por conta própria, dos candidatos independentes, parece basear-se numa lógica de competência política de que os mesmos se arrogam, que não tem correspondência no voto popular, visto que não eleições autárquicas unipessoais uma vez que o voto foi expresso no partido a que os concorrentes pertenciam à data da eleição.

A mensagem que se pretende fazer passar e que suporta este tipo de candidaturas, por mais estranho que pareça, em zonas urbanas predominantemente habitadas por uma classe média, supostamente politizada, é a de que todos são corruptos, mas estes, pelo menos, fizeram obras importantes e favoreceram os mais pobres.

Trata-se de uma teoria que defende, na prática, uma actuação que se pode definir como um misto de Robin dos Bosques e Zé do Telhado, mas que no fundo põe em causa a Democracia ao meter no mesmo saco todos os autarcas.

È certo que há excepções, condenáveis, certamente, de autarcas corruptos. Mas estes merecem a punição respectiva do Poder Judicial e a expulsão dos partidos políticos a que pertencem, para além do repúdio da sociedade e não um prémio por um comportamento desviante em relação ao serviço público que juraram servir com lealdade quando foram eleitos.

A confirmarem-se este tipo de candidaturas independentes a Câmaras Municipais, poder-se-á correr o risco de conduzir à vitória quaisquer arrivistas a contas com a Justiça, que colocariam em causa o Poder Político e o Poder Judicial com o argumento do voto popular, cuja obtenção poderia ser conseguida por métodos populistas onde o caciquismo e um certo desencanto pelos políticos, que não conseguem resolver os problemas de cada cidadão, poderiam facilitar o acesso ao poder, a quem, em condições normais, não teria qualquer possibilidade.

(João Aurélio Raposo)