domingo, abril 17

A VERDADEIRA IDENTIDADE DE JEITOSINHA (autor desc.)

Capítulo XV - Decisões
O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a ideia de ter salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica experiência lhe causava era mais revolta e dor. De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu acto qualquer tipo de reconhecimento?
Para o restante da humanidade, ela continuava sendo aquele ser anacrónico, discriminado por fugir dos padrões. Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Bruno. Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz reflectia sobre a grande - bota grande nisso - emoção que sentiu em sua primeira noite de amor com Jeitosinha.
"Será que eu gostei porque era a minha amada?", perguntava-se. "Ou será que tamanho prazer adveio do facto de que se tratava de um homem? Sou hetero ou gay?".
- Quem é você? - Gritou Bruno angustiado, olhando sua imagem no espelho. Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se ele tivesse experimentado a fruta do pecado. Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Ele podia entender que a namorada era um modelo de virtude e pureza, e que seu gesto, ao seduzi-lo, era apenas uma grande manifestação de amor! Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva, muito menos dramática:
"Sim, Jeitosinha é pura. É a minha Jeitosinha. Em nome desta pureza vale a pena continuar com ela!", concluiu. Se ela fosse um travesti vulgar... mas não! Ela foi criada como uma mulher, sob rígidos padrões morais! Quem sabe eles ainda pudessem ter uma vida juntos, mantendo a condição de Jeitosinha em segredo?
Num fragmento de sonho, Bruno se viu casado com ela, vivendo grandes noites de amor e criando duas crianças adotadas - Cléverson Luís e Letícia Aparecida - como se fossem seus filhos biológicos. Pensou em procurar a sua doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, tão desejado em tempos menos complicados.
Mas antes precisava enfrentar seu próprio demónio interior. Precisava saber se o que sentiu naquela noite mágica foi amor ou pura volúpia. Precisava, enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova! Bruno resolveu que aquela noite iria a um bordel atrás de respostas. Iria buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão grandes quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.
Mal poderia imaginar a grande surpresa que o esperava...

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