sábado, abril 16

COLABORAÇÕES

A PROPÓSITO DE ELEIÇÕES – A liberdade de voto da direita moralista
O texto que segue foi retirado do documento que se encontra arquivado no Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. Arquivo Salazar, AOS, 51, pasta 20 nº. 652 “Relatório 11 de Junho de 1958 “
Nas eleições presidenciais de 1958 o candidato da oposição, General Humberto Delgado, venceu as eleições no concelho de Valença por 1 260 votos, total do concelho contra 672 do candidato da União Nacional, Almirante Américo Tomás.
No relatório, cuja cópia foi enviada por um deputado da ex-União Nacional para o Presidente da Comissão Executiva da UN consta o seguinte:

Confidencial Eleições Presidenciais – 1958 – Valença
No mapa que segue vê-se o número de eleitores em cada secção de voto e a maneira como os votos foram distribuídos por cada um dos candidatos.
A vitória do candidato da oposição foi qualquer coisa de espantoso e a todos surpreendeu, principalmente por se tratar de um concelho onde a oposição não estava organizada, não havendo Comissão constituída. Tudo se limitou à simples entrega de listas. Perante este facto tão desconcertante surge fatalmente a pergunta – por que é que isto aconteceu?

Causas remotas
1 – Má escolha dos indivíduos que constituem as diferentes entidades paroquiais (Juntas de Freguesia, regedores, etc.)
2 – O Presidente da Câmara vinha a perder o contacto com entidades paroquiais, sobretudo com as Juntas de Freguesia, tendo estas, sempre que pretendiam fazer qualquer pedido para melhoramentos, necessidade de meter um intermediário, quase sempre um padre ou outro influente da freguesia.
3 – Todos conhecem e discutem as verbas despendidas em projectos que não se realizam.

Causas imediatas
1 – Comodismo, atingindo o desinteresse das pessoas responsáveis, que não tiveram o cuidado de trabalhar convenientemente o eleitorado.
2 – Incúria na entrega de listas. Não é admissível que tenha andado um funcionário da Câmara, de boné, com um braçado de listas, a entregá-las pelos cafés. Em Gandra aproveitaram um funeral, para as distribuir.
3 – Desinteresse de alguns membros da UniãoNacional e propósito deliberado de outros. Em Cerdal, apesar do bom entendimento entre um membro da UN, que é ao mesmo tempo Vereador da Câmara e o pároco perderam as eleições pela margem inconcebível de 127 contra 275!!!
Outro membro da UN, não satisfeito com a maneira como se manifestou durante a campanha eleitoral em diversas conversas de café, foi nomeado delegado do Presidente da Câmara junto da mesa eleitoral da vila, e nada fez para influenciar o resultado da eleição! Consentiu, até, que fosse colocada uma cadeira junto da mesa eleitoral, para que um dos indivíduos com funções fiscalizadoras por parte da oposição, estivesse mais comodamente instalado!!! É inacreditável, mas é verdade.
4 – Acção do clero. De uma maneira geral foram os padres os melhores elementos da propaganda da oposição. Desde ameaças aos insultos, disseram tantos e tais disparates que não podiam ter prestado melhor serviço a quem pretendiam combater. Um chegou a dizer que todos os eleitores teriam de apresentar as listas abertas e, se votassem no General Delgado, seriam multados em 50 escudos.
Outro para rematar a série de infelicidades, ainda no domingo de manhã, afirmava na Igreja: - as mulheres a votar no Delgado só aquelas para quem não chegue o marido e precisem de sete! Ouça-se e pasme-se!
5 – Incúria ou propósito na preparação das mesas eleitorais não as instruindo a agir de acordo com as necessidades de momento.
6 – Funcionários da Câmara andaram a distribuir listas da oposição e segundo me informam, outros houve que forneceram cópias dos cadernos eleitorais.

Moral da história – Mensagem para o pessoal do CDS/PP

Com a aplicação correcta desta cartilha não se perdem eleições a não ser que o pessoal do grupo não colabore ou não actue de acordo com as necessidades de momento, como foi o caso de Valença em 1958. É este o conceito de eleições livres e democráticas desta gente. Será que já mudou?

(enviado por João Aurélio Raposo)

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