sábado, novembro 7

A «Igreja Solidária»

Meia dúzia de linhas, numa micronotícia do interior de um só jornal, permitiram saber que na antevéspera da divulgação do novo elenco do governo tinha havido uma reunião entre Sócrates, Vieira da Silva, D. Januário e um outro bispo. Não foi divulgado qualquer comunicado oficial sobre o que lá se disse ao longo de hora e meia de conversa amena. Tratou-se, no entanto e sem qualquer dúvida, da abordagem de negócios pendentes. Sócrates precisa de parecer socialista e preocupar-se com a pobreza e com o desemprego. À Igreja compete ocultar incómodos investimentos que mergulham raízes em escândalos e mentiras. Recolher-se em oração para apagar as pistas das suas relações com os «paraísos fiscais», os seus envolvimentos com as sociedades secretas e com a banca corrupta, garantindo livre curso aos mananciais que jorram permanentemente das fontes do poder político.
Há evidentes relações do interesses deste tipo que facilitam, na conjuntura actual, a aproximação entre um governo aparentemente isolado e uma igreja desmobilizada e em grave crise doutrinal mas com uma economia florescente. São naipes de interesses que partilham a necessidade comum de ocultarem as realidades e desenvolverem, na sombra, as suas sofisticadas estratégias de poder.
Se nesta área na vida política tudo parece parado é só porque o sistema de segurança da ocultação continua a funcionar. Por exemplo, soube-se que o Santuário de Fátima lucrou milhões com as fraudes do BPP. Foi como se nada se tivesse passado. Os entendimentos entre a igreja e a Segurança Social continuam de vento-em-popa. Os doentes, os velhos e os deficientes, são «canalizados» para as instituições privadas, todas elas pertencentes ou dominadas por vastos interesses da igreja. Os contribuintes pagam e a «Igreja Solidária prospera. O Governo compromete-se a remunerar os capelães, «à peça» e com «recibos verdes». Nada se comenta e nada se critica. Em nome da igualdade de acesso de todos os credos à assistência religiosa, cria-se uma nova estrutura, despropositada, que reúne bispos promovidos a generais e almirantes, oficiais dos Estados-Maiores das Forças Armadas, Comandos da GNR e da PSP, em novas áreas de intervenção da Igreja, nos hospitais, nos quartéis e nas prisões. Um manto de silêncio tudo isto abafou.


Dizia o Poeta: «Mal empregado privilégio, a fala»...

Jorge Messias

3 comentários:

  1. O Vaticano é um Estado. Qualquer Estado é orientado em ideologias politicas. O Vaticano sempre teve esses principios. Por isso tem os seus Embaixadores em variadissimos paises. O Vaticano é reconhecido por esses Estados e até tem um representante tipo Ministro dos Negócios Estrangeiros, ou tipo Relações Exteriores.Os Papas são eleitos por fumo (?) branco em chaminé escrutínio, tipo eleições. Não têm qualquer poder divino nem Jesus Jesus Cristo deixou uma escala a dizer quem é que o substituia após a sua morte. Depois o Vaticano alia à sua política com assento na exploração da fé, servindo a defesa dos exploradores e seus aliados. É também um Estado comercial pelos variadíssimos negócios que explora.É fundamentalmente um Estado político e se assim não fosse estaria desligado da política. Não é por acaso que os políticos mesmo depois do 25 de Abril não tomam decisões sem chamarem o representante da igreja e sem o consentimento da igreja católica. A separação da igreja e da política não se fez e não se fará em Portugal porque elas andam juntas e comprometidas desde a Fundação do nosso país. Seguiram juntas na epopeia dos Descobrimentos e repare-se que a primeira coisa que faziam ao aportarem em terra firme, apoderando-se desses territórios, era erguer o Padrão com a Cruz. A História é muito elucidativa. Infelizmente há Historiadores que escrevem e pintam em tons das cores que lhes interessam e esses normalmente são os que têm aceitação nesta sociedade controlada e formatada.
    A.A.

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  2. Obrigado Jorge Messias.
    Excelente comentário porque conta a história tal qual ela é. Os conluios entre os poderes da política vigente e da igreja católica são tão evidentes, deixando-nos sem saber onde começa a política e a religião. Também poderá revelar-nos que ambos estão a passar por momentos tão difíceis e talvez assim, nesse recato, se estejam a confessar dos seus pecados. Talvez para se salvarem da crise que são responsáveis. Aguardemos com a velha fé dos portugueses que surja o milagre transformador destas rosas, no dito pão que o diabo amassou!
    A.A.

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  3. Desde as raízes geradas pelas questões cristãs/judaicas – inquisição, políticas napoleônicas, até as actuais Concordatas, cambistas da fé e intifadas - política e religião não combinavam, não combinam e nunca irão combinar. Qualquer sistema político/religioso, actualmente, trata-se de poder nocivo e pernicioso, tendo que ser incansavelmente combatido. Mas, após a observação dos factos históricos, sabe-se que as únicas e exclusivas armas possíveis de se utilizar nessa luta são o amor, a esperança, a sabedoria, a educação, a informação/comunicação e principalmente a fé. Faltando uma dessas armas, acredito ser menos pior deixar as coisas como estão.

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