segunda-feira, novembro 23

Colaborações

Meu caro Luís, perguntas o que tenho a dizer do Vinte e Cinco de Abril. O que tenho para dizer dava para escrever vários livros. Eu lutei juntamente com outros Camaradas para aparecer esse maravilhoso dia e tenho acompanhado a evolução destes 35 anos.
Para satisfazer a tua curiosidade, vou escrever um resumo para ficares com uma ideia da situação antes do Vinte e Cinco de Abril e situação que vivemos agora.
Portugal viveu uma longa noite fascista, 48 anos, dos governos Salazar e Caetano, partido único. Com 8.063 mil habitantes, apenas podiam votar 1.687.830 eleitores. Censura nos jornais, rádio, televisão e livros. A educação era apenas para os senhores do poder. Em Abril de 1974 havia 34% de analfabetos.
Salazar baniu todos os partidos e organizações dos Trabalhadores. O Partido Comunista Português passou à clandestinidade e foi o único partido organizado que não deu tréguas ao fascismo, lutando pela liberdade e bem-estar do Povo desde o começo da Ditadura até ao dia da Liberdade. Muitos Comunistas deram a vida para hoje sermos Livres.
As novas organizações fascistas, Grémios, Institutos, Casas do Povo, Sindicatos, Câmaras, Juntas de Freguesia, etc., etc., eram geridas por gente nomeada directamente pelo governo. Que mesmo sendo da sua confiança os vigiava constantemente. O Povo não vivia, vegetava. Vivia sob três efes. Fátima, Fado e Futebol e estes eventos também eram censurados.
Para manter o Povo amordaçado, o fascista Salazar criou a Legião Portuguesa, a polícia política chamada P.V.D.E. (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado) mais tarde reforçada pelo Caetano e para enganar o Povo mudou o nome para D.G.S. (Direcção Geral de Segurança). À Censura deu o nome de exame prévio. Amigo Luís imagina que tens um frasco cheio de veneno, tiras o rótulo que diz veneno e colas um a dizer xarope. Assim foi aquilo que o Caetano fez.
A Pide tinha carta branca para prender, torturar e até matar. Assassinou muita gente á queima-roupa, entre muitos, o General Humberto Delgado e a sua secretária Arajari Campos, que era brasileira (tua patrícia), o escultor José Dias Coelho, o médico Ferreira Soares. O tenente Carrajola assassinou Catarina Eufémia que se encontrava grávida, etc. São numerosos os crimes cometidos pela pide nas suas delegações, nas prisões e na Rua.
A polícia política tinha a sede na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa. Tinha também várias delegações em várias capitais de distrito.
Mas, tinha delegados (bufos da pide) pagos mensalmente, no Exército, na Marinha, na Aviação, na P.S.P., na GNR, na Policia de Viação e Trânsito, na Guarda Fiscal, na Policia Marítima, na Polícia Judiciária, nos Governos Civis, nas Câmaras Municipais, nas Juntas de Freguesia, nas Juntas Distritais, nas Casas do Povo, nos Sindicatos, nos Grémios, nos Institutos, nas Escolas, nas Universidades, nas Igrejas, nos Tribunais, etc. Quase metade da população portuguesa tinha ficha na pide.
Foram encontradas na sede da pide três milhões de fichas, em arquivo, referentes a presos políticos e pessoas vigiadas que continham toda a sua vida até ao pormenor.

(Continua…)

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