quinta-feira, novembro 26

A história repete-se sempre

Amigo Luís Lourenço, como estão as coisas ai pelo Brasil? Nunca mais disseste nada...

Para completar aquela opinião que me pediste acerca do que eu penso do 25 de Abril, deixo-te aqui este texto de Guerra Junqueiro que ainda está muito actual, dada a nossa situação presente:
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

1 comentário:

  1. Os Segredos em Democracia.
    Temos segredos de estado, segredos de justiça, segredos bancários, segredos de escutas, segredos de tácticas de guerra, segredos da fabricação de armamento destruidor e mortífero, segredos de culinária regional e convenctual, segredos do milagre de Fátima e outros, segredos da táctica a empregar em certos desafios de futebol, segredos de namoros, segredos de infedilidade entre casais, segredos de como se enriquesse sem trabalhar, segredos de grandes negócios, segredo das negociatas e talvez por isso é que se diz que o segredo é a alma do dito negócio. E para alargar este rol, apatece-me dizer: com tantos segredos, vivemos numa sociedade SECRETA. É preciso muito cuidado porque esta sociedade é extremamente perigosa. Mas afinal, quem está na primeira linha em defesa dos segredos, não revelará que tem medo da VERDADE? Por isso a VERDADE é incomodativa para todos os que se acomodam à sombra dos segredos. Iremos continuar a assistir a outros segredos que se hão-de seguir a todos os segredos já nossos conhecidos. Apesar desta sociedade secreta e do fala mansinho ao ouvido, QUEM NÃO DEVE NÃO TEME.
    Acabe-se com os segredos e viva a VERDADE.
    A.A.

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