terça-feira, abril 15

Cartas d’Além Tejo

Amigo Mello
Tenho seguido com muito interesse, no Crónicas do Planalto, o seu desafecto com o Alberto João. Tenha muito cuidado, o bicho é ladino. Esconde-se atrás da imunidade política para escoucinhar em todas as direcções, mas recorre a tribunal sempre que alguém lhe responde á letra. Ainda há pouco, um jornalista foi condenado por lhe chamar palhaço rico. Queira deus, o amigo não se arrependa como eu me arrependi amargamente.
Passo a explicar:
Eu costumo dar aos meus animais domésticos o nome de pessoas conhecidas. É olhar para eles e batizá-los. Deste modo, tenho neste momento, um cágado chamado Paulinho e um burro chamado Lopes.
O ano passado, um compadre meu, ofereceu-me um cachorro com três semanas. Bem gordinho, focinho largo, ar aparvalhado, pensei logo; Alberto João.
Registei-o, vacinei-o contra a raiva, coisa que já deviam ter feito ao seu homólogo, e o nome ficou.
Passou a ser conhecido na vizinhança e objecto de galhofa pelo nome que tinha. Mas o meu canito cresceu. Tornou-se um belo rafeiro alentejano, que em nada lembra o sabujo da ilha. Eu agora, sempre que o chamo, sinto remorsos. É como se o estivesse a ofender, a chamar-lhe um nome feio.
Eu já ouvi dizer, que para nós, querendo, se pode mudar de nome. Para os cães também será possível? Eu gostava de ver o bicho livre desta afronta.
Talvez o amigo Mello, que sabe das leis, me possa encaminhar.

Do seu criado,
Joaquim Carrapato

3 comentários:

  1. Este texto- passe embora o perigo do elogio;)- e fabuloso!

    Saudaçoes

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  2. Elogie á vontade...
    O meu compadre Carrapato agradece.
    Mas já o vi escrever melhor.

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  3. Pois nao sei,
    acho que nao conheço assim tao bem a escrita do seu compadre Carrapato, mas que achei muita graça ao texto achei.

    Saudando-o por isso

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