terça-feira, novembro 24

Colaborações

(continuação…)
Com efeito cada Dossier individual de controlo, como eram designadas as fichas, continha as seguintes alíneas: Nome, Pseudónimo, Nascimento (lugar e data), Filiações, Filhos e outros parentes, Religião, Habilitações, Serviço Militar, Detenções, Descrição física (com sinais particulares), Informação profissional, particular e pessoal, Endereços, Bens móveis e imóveis, Criados, Restaurantes, Barbeiro, Cabeleireiro, Alfaiate, Modista, Médico, Lojas, Igrejas, Teatros, Cinemas, Clubes, Bares, Férias, Passatempos, Amantes, Amigos pessoais, Sistemas de transporte.
A Igreja Católica foi um grande sustentáculo do regime naqueles 48 anos, durante aquela imensa noite fascista.
Alguns padres que denunciaram os crimes do fascismo foram presos pela pide e expulsos da Igreja pelos bispos de quem dependiam.
O facínora Salazar criou também Tribunais Plenários de Juizes Desembargadores e Corregedores para julgarem apenas todos os opositores e fez leis para manter eternamente presos, nas prisões fascistas, ou no Campo do Tarrafal, todos aqueles que o fascismo assim o entendesse. Aqueles Juizes eram fascistas encartados. Os presos que mandavam para o Tarrafal, conhecido por Campo de morte lenta, dificilmente voltavam a ver as famílias e aqueles carrascos tinham perfeito conhecimento daquela situação.
As riquezas do país estavam nas mãos de meia dúzia de famílias. Os grupos que comandavam toda a economia , eram o grupo Cuf e Champalimou. O poder político estava subordinado aos grandes grupos económicos.
Entretanto, começou a guerra nas três Colónias portuguesas, Guiné, Angola e Moçambique.
Os naturais daquelas Nações lutavam pela sua independência. O Salazar deslocou para a frente de batalha daquelas Colónias 200 mil soldados.
Desde 1961 até 1974 foram mortos dez mil jovens soldados portugueses e trinta mil foram feridos, a maioria incapacitados para a vida.
Os impostos quadruplicaram de 1961 para 1973 e naquele ano atingem 4.000$00 por habitante. A divida do estado subiu de 17 milhões para mais de 53 milhões de contos. O aumento do custo de vida era de 33% em 1973.
Um milhão e meio de portugueses abandonaram o país. Uns partem legalmente, outros a “salto” e endividados, explorados por passadores, sofrem fome, frio e medo dos dias escondidos, das noites a caminhar. Muitos deles são jovens que fogem para não irem para a guerra das Colónias. Não querem morrer numa guerra injusta.
Amigo Luís Lourenço, com este pequeno resumo do antes do Vinte e Cinco de Abril talvez compreendas a razão porque surgiu a Revolução dos Cravos.

A seguir vou escrever um resumo da situação actual.

(continua…)

3 comentários:

  1. Senhor Moderador do Crónicas do Planalto
    Como se notam grandes similitudes com a nossa época, envio mais uma transcrição. Extraida de um Livro de Guerra Junquerio. Cumprimentos.
    A.A.
    Amigo Luís Lourenço, como estão as coisas ai pelo Brasil? Nunca mais disseste nada...

    Para completar aquela opinião que me pediste acerca do que eu penso do 25 de Abril, deixo-te aqui este texto de Guerra Junqueiro que ainda está muito actual, dada a nossa situação presente:

    "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
    fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
    aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
    sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
    pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
    um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
    um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
    e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
    um lampejo misterioso da alma nacional,
    reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

    Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
    não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
    sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
    descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
    capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
    da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
    este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
    tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

    A justiça ao arbítrio da Política,
    torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

    Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
    incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
    iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
    e não se malgando e fundindo, apesar disso,
    pela razão que alguém deu no parlamento,
    de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
    Guerra Junqueiro, 1896.

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  2. Guerra Junqueiro escreveu isso há 113 anos. Já não deviamos estar nesse tempo. Mas parece que estamos.
    Ant. Batista Lourenço

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  3. Colaboração

    O Poder Autárquico em Alter após o 25 de Abril de 1974

    Até ao 25 de Abril de 1974 era o Governo, através do Ministro do Interior, que escolhia e nomeava os Presidentes das Câmaras. Estes tinham de ser pessoas de sua confiança política. Por sua vez os Presidentes de Câmara é que escolhiam as pessoas para o Executivo!
    Como resultado da Revolução do 25 de Abril deu-se a dissolução do Executivo da Câmara Municipal de Alter do Chão. Seguiu-se depois a posse de uma Comissão Administrativa que haveria de gerir a Câmara Municipal até as primeiras eleições livres para as autarquias locais. Essa Comissão foi constituída por pessoas sem ligações conhecidas ao regimen deposto.
    Do resultado das primeiras eleições autárquicas sairia vencedor o Partido Socialista, ficando a coligação PCP-APU a escassos votos e o PSD pouca expressão eleitoral disponha. Nas três eleições seguintes os resultados haveriam de se repetir, havendo até a sensação que o PS se iria eternizar no poder em Alter. Até porque teve tempo mais que suficiente para semear no terreno as influências políticas que lhe foram garantindo o poder local. Quando isso já era quase um dado adquirido, surge inesperadamente a vitória do PSD.
    Entretanto vamos agora assistindo a uma progressiva tomada de controle local do PSD. Em direcções de todas as Colectividades que fazem parte do Património representativo concelhio e não só, encontram-se pessoas com ligações ao PSD. E quando não o são, são de sua confiança. Um munícipe com necessidade de tratar qualquer assunto e aonde tenha de se dirigir dá com um conotado rosto do instalado Poder Político Autárquico. Não sendo visível o rosto do poder, ele paira por lá. Então quando se tem a decisão de influenciar na admissão de pessoal e outras situações idênticas, mesmo que isso não se torne notório não deixa de estar lá a carga psicológica sobre quem necessita dessa decisão ou de trabalhar! Para mais num Concelho onde quem procura trabalho e ele se torna muito mais difícil que encontrar uma agulha num palheiro! Isto não é novidade. Está instalado o aparelho a partir do qual se obtêm bons resultados. Depois da saída de algumas das suas peças que pensavam travar a máquina partidária do PSD, esta encontra-se em pleno funcionamento.
    O PSD condenava os “Boys” no tempo de Guterres, como actualmente condena no governo Sócrates e afinal o PSD não está longe do mesmo modelo! A máquina PSD começou a ser planeada há anos! Hoje vê os seus resultados. No futuro terá de garantir não só o funcionamento da máquina como a sua manutenção. Parabéns.
    A . A .

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