sábado, agosto 2

A Verdadeira Identidade de Florindinha

Capitulo II
Quando o Zé chegou da herdade do Vesgo já a farsa estava em andamento. Os rapazes estavam todos no quarto a conhecer a nova deusa da casa e a dona Engrácia, tia de Chica, com a ajuda de uma vizinha, labutavam nos tachos a fazer fatias "paridas" com muito açúcar e canela para confortar os estômagos das canseiras do dia.
O Zé encarou a boa nova com alguma frieza. Não foi muito expansivo, coisa do seu feitio. Mas a maior prova de que gostou, foram as rodadas de pinga que pagou na taberna do Malaquias, coisa nunca vista nele, e a semanada inteirinha de bebedeira que inaugurou nesse dia.
A apreensão da Chica quanto á manutenção da mentira, depressinha se esfumou. Não iria ser difícil esconder do pai da criança a verdade sobre Florindinha. Zé da Horta era um homem pouco atento. Nunca lhe passou pela cabeça chegar o nariz por perto das fraldas dos filhos, não era agora que ia mudar. Isso era coisa de mulher. De mulher ou de mariconso, que vai dar no mesmo. Depois, aquela crença que ganhou na semana dos festejos, depressa se acentuou. Aos dias de trabalho, seguiam-se as tarde de copos. Normalmente só vinha para casa já muito perto da hora de jantar, bem emborrascado, a cantar o «era o vinho meu bem, era o vinho» e a trocar o passo, pronto a chegar a roupa ao pêlo á pobre Chica e aos miúdos.
Nunca tinha sido "uma flor que se cheirasse" e cada vez estava pior. Tivesse a Chica tempo e um corpo para tal, ter-lhe-ia há muito enfeitado a cabeça com um belo chapéu de dois bicos. (cala-te boca).
Nunca se soube bem ao certo o que despoletou esta queda do Zé da Horta para a vinhaça

(continua)

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