O meu bisavô Zé Ratinho era um homem pequeno de estatura, uma característica de que ele parecia não gostar muito. Então compensava esse aborrecido “handicap”, com um carácter destemido e uma imaginação muito fértil. Sempre que se aventurava pelos campos de noite, trazia histórias arrepiantes para contar de lutas com lobos ferozes e descomunais. Ao ponto se dizer que “fazia os lobos grandes”.
Um dia em que precisou de ir a Chança, a pé como era costume na época, quando voltava para Seda, armou-se uma enorme trovoada. Tinha duas hipóteses; ou seguia o caminho normal e levava com a tremenda borrasca, ou cortava caminho pela Barroca das Serpes, apesar de todos os perigos. A Barroca das Serpes, ainda hoje, é um lugar soturno. Naquela época, fins do Sec. XIX, quem por lá se aventurasse de noite, tornava-se certamente repasto das alcateias.
Ele decidiu-se pelo caminho mais curto, cuidando passar os perigos antes da noite acontecer. Ou por ter calculado mal o tempo, ou por influencia da enorme borrasca, o breu da noite deu-se quando estava mesmo no coração do perigo.
O concerto de sons na noite era aterrador. Sentiu-se seguido. A sensação de perigo, já tão sua conhecida, invadiu-lhe todo o corpo. Apressou o passo. Num momento em que os raios do luar romperam a abóboda de negras nuvens, viu-o a cortar-lhe a passagem. Era o maior lobo de que tinha memória. A fera mediu-o. Avançou. Primeiro lentamente, depois a mata-cavalos. Fez o salto, a enorme bocarra escancarada. O meu pobre bisavô, só teve tempo de esticar o braço. Enfiou a mão pela garganta do bruto, chegou ao outro lado, agarrou e puxou-lhe o rabo. E o lobo ficou virado das “avessas”.
- Só visto! Contava ele.
Ah, ganda Zé, é assim mesmo, pudemos ser pequenos em estatura,mas altos em sonhos. Gosto do Avô Zé Ratinho, peito erguido, que o mundo é nosso!
ResponderEliminarReminiscência
ResponderEliminarInteressante. Desde a minha infância lembro-me do meu pai contando parte dessa estória, adaptada na forma de piada repetidas vezes e algumas vezes até na fase adulta. Creio que o seja em razão do meu avô paterno ser filho de portugueses.
E qerem ver que arranjamos aqui uns parentes?
ResponderEliminarTodos somos bisnetos do "engenho e arte"
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