segunda-feira, novembro 30

Dia a Dia

A Cimeira Ibero-amaricana, é uma pasmaceira. Sem Fidel e Chavez é "muy aburrido".
Se tem faltado Lula, nem valia pena os media dar-lhe destaque.
Não percebo nada de protocolo. Porque é que segundo o protocolo o rei de Espanha é o último a chegar aos locais. Não seria mais lógico valorizar a importância dos lugares? O presidente do Brasil, claro.
Mas não, reserva-se deferência ao delfim de Franco. Que merda...

Alex Ferguson diz que o Benfica está interessado em Nani. Mas ressalva que nunca houve contactos do Benfica. Onde terá ele sabido? Na casa de meninas que frequenta?

domingo, novembro 29

Diário Lampião

Sporting 0 - 0 Benfica

Foi um resultado justo. É verdade que o Benfica teve mais posse de bola e mais ataques. Esteve mais vezes na "cara do golo", mas não o suficiente para arrecadar os três pontos.
È sina das equipas pequenas, agigantarem-se quando recebem os grandes.

Ode a Fernanda Câncio

Ó Fernanda, dado que já estou cansado do ar teatral a que ele equivale em todo o horário de cada canal, no noticiário, no telejornal, ligando-se ao povo, do qual ele se afasta, gastando de novo a fala já gasta e a pôr agastado quem muito se agasta por ser enganado.
Ó Fernanda, dado que é tempo de basta, que já estou cansado do excesso de carga, do excesso de banda, da banda que é larga, da gente que é branda, da frase que é ópio, do estilo que é próprio para a propaganda, da falta de estudo, do tudo que é zero, dos logros a esmo e do exagero que o nega a si mesmo, do acto que é baço, do sério que é escasso, mantendo a mentira, mantendo a vaidade, negando a verdade, que sempre enjoou, nas pedras que atira,
mas sem que refira o caos que criou.
Ó Fernanda, dado que já estou cansado, que falta paciência, por ter suportado em exagerado o que é aparência.
Ó Fernanda, dado que já estou cansado, ao fim e ao cabo, das farsas que ele faz, a querer que o diabo me leve o que ele traz, ele que é um amigo de São Satanás, entenda o que eu digo:
Eu já estou cansado! Sem aviso prévio, ó Fernanda, prive-o de ser contestado! Retire-o do Estado! Torne-o bem privado!
Ó Fernanda, leve-o! Traga-nos alívio! Tenha-o só num pátio para o seu convívio!
Ó Fernanda, trate-o! Ó Fernanda, amanse-o! Ó Fernanda, ate-o! Ó Fernanda, canse-o!

sábado, novembro 28

Dualidades

A Igreja católica irlandesa ocultou os abusos sexuais a menores durante décadas.

O ministro irlandês da justiça, Dermot Ahern, apresentou hoje um relatório cujas conclusões asseguram que a conivência entre a hierarquia eclesiástica e as autoridades do estado, entre elas a polícia e o ministério público, serviu para proteger os padres pederastas e evitar escândalos.

As autoridades ajudaram quatro bispos a esconder os abusos dos padres da arquidiocese de Dublín, que teve imunidade para transgredir a lei, de acordo com o relatório que elaborou o juiz Yvonne Murphy.

Notícia semelhante se ouviu há dias, proveniente desta vez da Escócia. Sempre com a conivência da Igreja Católica. Verdadeiras alcateias atacam o rebanho, escolhendo sempre os mais indefesos, as crianças. A ierarquia cala para preservar a imagem da instituição. As crianças que se lixem.

Entretanto numa pequena aldeia portuguesa, um jovem padre descobriu o amor. Conheceu uma jovem, esperou que ela fizesse dezoito anos, pediu a mão á família e ao esbarrar com os preconceitos, foi obrigado a fugir com ela.

Esse homem honesto está proscrito. Vai ser banido. Nunca mais poderá servir a igreja como sonhou toda a sua vida.

sexta-feira, novembro 27

Os Intocáveis

Mário Crespo

O processo Face Oculta deu-me, finalmente, resposta à pergunta que fiz ao ministro da Presidência Pedro Silva Pereira - se no sector do Estado que lhe estava confiado havia ambiente para trocas de favores por dinheiro. Pedro Silva Pereira respondeu-me na altura que a minha pergunta era insultuosa.
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.

Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.

quinta-feira, novembro 26

Reflexões sobre; Assim vai a vida…

Acompanho, como deves saber, o CRÓNICAS DO PLANALTO e vou escrevendo alguma coisa, muitas vezes como anónimo, embora não o devesse fazer, já que procuro não dizer mentiras, falsidades e sobretudo não ser hipócrita. Tenho outros defeitos, que pelos vistos são mais graves na nossa sociedade. Sou exigente comigo mesmo e com tudo o que faço que tenha implicação na vida dos meus semelhantes. Sou ingénuo e por isso tenho pago um preço caro mas usufruo da vantagem de até hoje por onde passei e das muitas pessoas que conheci ninguém ser capaz de me dizer na cara que eu fui menos justo naquilo que tive de decidir ou apreciar. Sobretudo orgulho-me de dizer que nunca fiz fretes a ninguém.

Hoje apeteceu-me escrever em inglês, não para imitar o filósofo da Marmeleira mas para não esquecer o que aprendi. Penso que compreenderás e está dentro do contexto que conheces.

Aqui vai:

In Portugal it is said that those fear buying a dog.

Participation in organizations unclear, it may punish the well intentioned and leave out those responsible for the action. The bulles are slaughtered if they do not put the stick.

The organization more powerful and better artillery of the last 2000 years, take the benefits and protection of their interpreters burning the rest.


Sincerely


(Antes de mais, penitencio-me por ter tomado a liberdade de editar a sua carta. Compreendo-o, mas discordo de si. É isso que eles querem, o rebanho á sua mercê, para se poderem sentir importantes e poder conduzi-lo como se tivessem dons de pastor. Enquanto eu puder, vou usar as minhas poucas forças para impedir que os lobos passem por pastores)

A história repete-se sempre

Amigo Luís Lourenço, como estão as coisas ai pelo Brasil? Nunca mais disseste nada...

Para completar aquela opinião que me pediste acerca do que eu penso do 25 de Abril, deixo-te aqui este texto de Guerra Junqueiro que ainda está muito actual, dada a nossa situação presente:
"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.